Escolas públicas apostam na tecnologia dentro
das salas de aula
Conheça escolas brasileiras
que trouxeram métodos modernos e aparelhos tecnológicos para dentro das salas
de aula.
Imagine alunos de séries
diferentes misturados todos no mesmo ambiente, estudando em computadores
e celulares de última geração. Em vez de provas, jogos de computador --e quem
acerta passa de fase. Essas inovações já estão acontecendo em escolas públicas
e particulares no brasil.
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Quem tem mais de 30 anos,
quando estava na escola a aula era na frente. Um muro dividia o mundo, Plutão
ainda era um planeta e suas pesquisas eram feitas só nos livros. Mas quem é
mais novo e está agora na escola já se acostumou a encontrar informação em um
clique. A escola mudou. Qual vai ser o papel da tecnologia na sala de aula do
futuro?
Além de morarem na
comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, Maria Clara e Giovanni
Barroso têm em comum o fato de estarem sempre na frente de uma tela.
Maria Clara já sabe mexer
no computador.
Giovanni gosta tanto dos
joguinhos que mal consegue prestar atenção em outra coisa. “Tem campo minado,
xadrez, copa...” contou o menino, enquanto utiliza o laptop.
Os dois, tão acostumados a
ter sempre uma resposta na ponta dos dedos, não sabiam, mas nas férias de verão
a escola municipal em que eles estudam tava sendo posta de cabeça pra baixo.
As paredes caíram, agora é
tudo um espaço só. E os móveis novos seguem o projeto pedagógico iniciado este
ano.
“Os móveis têm múltiplos
usos. A cadeira pode virar uma coluna, uma estante. O banco vira material de
exposição. O banco vira uma estante, a estante vira banco. O projeto do
ambiente da escola serve justamente a esse propósito de autonomia, construção,
desconstrução, pensar, repensar”, diz o designer Jair Souza.
No primeiro dia de aula, a
Maria Clara e o Giovanni tiveram uma surpresa: eles e os outros alunos do
sétimo ano foram misturados com estudantes do oitavo e do nono ano. Do total de
180 alunos, formaram-se grupos de seis, para trabalhar em mesas redondas. Não
há professor na frente da sala, não há um ponto para onde todos têm que olhar
ao mesmo tempo. É onde a tecnologia entra no projeto da Rocinha: cada aluno vai
usar um computador.
“A espinha dorsal desse
tipo de trabalho aqui é tentar formar dentro do aluno o interesse em aprender.
De dentro para fora. E assim ele vai buscar, na internet ou com as tecnologias,
e a gente vai ajudar”, disse o professor de matemática Sérgio Luís de Matos.
Os professores passam a ser
orientadores nessa busca de informações. E toda semana, os grupos de alunos vão
mudar, de acordo com habilidades e necessidades detectadas em testes feitos nos
computadores.
“Existem outras escolas
inovadoras, não só no Brasil, mas em outros países do mundo também. A grande
maioria delas aposta na ajuda das novas tecnologias pra auxiliar o aumento da
qualidade da aprendizagem. A tecnologia é uma ferramenta, um facilitador”,
explica o subsecretário de Novas Tecnologias Educacionais do Rio de Janeiro,
Rafael Parente, sobre o porquê de a tecnologia exercer um papel tão
fundamental.
Uma das escolas usadas como
referência fica em Nova York. É chamada de School of One, ao pé da letra
"escola do um". Nas aulas de matemática, os alunos chegam e vêem no
mural o que vão fazer naquele dia. A tarefa é determinada pelo resultado de
cada um nas atividades do dia anterior.
A diretora explica que,
assim, os professores podem focar no ritmo de aprendizagem de cada aluno e não
precisam esperar as provas pra descobrir as dificuldades deles.
O método é usado há três
anos, e esses alunos começaram a se sair muito melhor nos testes estaduais de
matemática.
Respeitar o tempo de cada
um é a principal ideia de outro americano. Salman Khan estudou em Harvard, e
foi tão bom aluno que teve o diploma entregue pelo então presidente Bill
Clinton. Um dia, a sobrinha de Salman teve dificuldades em matemática. Ele
morava longe e começou a explicar pela internet. Outros parentes pediram ajuda;
Khan começou a postar as explicações. Hoje, esses vídeos têm mais de seis
milhões de acessos por mês.
Salman Khan, que veio a São
Paulo em fevereiro, diz que é coisa do passado ter 30 carteiras olhando para um
quadro-negro, que os alunos não precisam andar juntos, compassados. “Não é
preciso separar os alunos por idade, os mais velhos podem ajudar os mais
novos”, diz. Ele fundou a Khan Academy e espalhou pelo mundo todas as
videoaulas de matemática e de outras oito matérias.
A tradução para o português
foi feita pela Fundação Lemann. E os vídeos chegaram a uma escola pública do
bairro Capão Redondo, em São Paulo. É lá que Ana Beatriz de Souza estuda. Uma
vez por semana, ela tem uma aula diferente.
Os alunos se organizam de
acordo com os resultados conseguidos na semana anterior. Cada um deles pega o
seu computador e começa a jogar. A Ana Beatriz está aprendendo subtração.
“Então a gente vai
conseguindo passar de níveis. Eu já estou na Subtração II. Estou conseguindo e
estou melhorando na matemática”, diz Beatriz. A regra do jogo é esta: a cada
exercício que a Beatriz acerta, ela ganha um planeta do sistema solar. Quem dá asas
à imaginação consegue transformar a aula numa grande aventura. “Se acertar
tudo, vai chegar lá no sol”, conta a menina. Se a Beatriz acha difícil uma
questão, e a viagem espacial é interrompida, ela busca na tela um dos vídeos do
Salman Khan.
No fim, os professores
recebem um relatório gerado pelo computador. Ficam sabendo na mesma hora quem
precisa de ajuda, quem evoluiu e como a turma deve ser organizada na semana
seguinte.
Em uma escola particular,
também em São Paulo, cada um dos alunos têm, cada um, um tablet. Mas todos
acompanham juntos as projeções feitas pelos professores. É como se as velhas
apostilas ganhassem a uma versão virtual.
“O que nós fazíamos em 50
minutos, agora a gente consegue fazer em 10, 15. O professor ganha tempo, condição
de melhorar as aulas e o aluno ganha muito mais conteúdo, conhecimento e
prazer. A gente vê que eles fazem com prazer”, conta a professora Sandra
Petracco.
O programa criado por uma
empresa mexicana já foi vendido para 700 escolas na América Latina, 150 só no
Brasil. Para o estudioso da informática educacional Henrique Sobreiro, é
preciso avançar e mudar os métodos.
“Nós ainda estamos numa
fase de usar a tecnologia para fazer as coisas velhas. Ou seja, fazer melhores
provas, fazer o aluno prestar mais atenção, fazer o professor dar melhores
aulas. O que a tecnologia serve é para aula, para escola, ser diferente”,
analisa Sobreiro, doutor em educação pela Uerj.
A maior iniciativa do
governo federal ainda aponta para a primeira etapa desse processo todo: a
inclusão digital dos professores da rede pública. No ano passado, o Ministério
da Educação repassou R$ 180 milhões aos estados para a compra de 600 mil
tablets, que vão ser entregues a esses profissionais. Agora, aos poucos, os
estados estão vendo o que fazer com a verba.
Em Minas Gerais, a
Secretaria de Educação comprou 62 mil tablets, que vão ser distribuídos para
todos os professores do ensino médio da rede pública. O primeiro grupo está
sendo capacitado para o uso da nova tecnologia. O primeiro aplicativo instalado
no tablet serve para ensinar os professores a usar a tecnologia touch screen.
“Com a entrada da tecnologia, seja reinventando o tablet e outras coisas que
vão para a sala de aula, a educação passa a ter um pouquinho mais de sentido
para o aluno”, diz o professor Davi Barroso.
Experiências como a da
Rocinha são mais caras: a escola custou R$ 3,5 milhões. Para conseguir esse
dinheiro todo, a prefeitura fez parceria com 17 empresas.
“É uma falha pensar que
existe uma privatização da educação quando isso sempre existiu. Eu acho que a
cautela principal é: o que os alunos aprendem não pode ser influenciado pelas
empresas. Elas podem até questionar, mas elas não podem decidir”, conta o
subsecretário Rafael Parente.
E tudo ainda são
apostas.
“São poucas experiências,
mesmo em nível mundial, que tenham realmente uma mudança de paradigma da
educação instalada nas suas escolas, que você possa medir o impacto da
tecnologia”, avalia a doutora em psicologia da educação da PUC de São Paulo
Maria Alice Setúbal.
“A importância da
introdução da informática na escola não é para melhorar o rendimento escolar, é
porque a informática faz parte do mundo. Então, se você não dá habilidades de
começar a controlar essa máquina, você está retirando uma possibilidade de cidadania
dela. A questão é como é que nós vamos melhorar a sociedade sem que, na escola,
a gente ensine as crianças a dominar esse equipamento”, conclui Sobreiro.
Referencia onde foi retirado o texto:
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